Notas
Pelo menos dez clãs do Peru enviam droga para o Brasil
Não há um método único. Pode ser a bordo de um barco, escondido em um caminhão ou na mochila de um traficante. As formas que os produtores de cocaína no Peru encontraram para enviar droga ao Brasil são muitas e se diversificam com o tempo, aproveitando-se do escasso controle na fronteira entre os dois países e da corrupção que ali campeia. É o que reconhece a procuradora Antidrogas Sonia Medina, ao ser consultada.
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A Procuradoria Antidrogas identificou ao menos dez importantes clãs da droga que exportam cocaína para o Brasil. Eles operam principalmente em Iquitos, capital da Amazônia Peruana, a nordeste daquele país, em zonas como Santa Rosa, Leticia e Yavari, cidades próximas ao Rio Amazonas. Na realidade, aproveitam essa via fluvial para fazer suas entregas. No mês passado, agentes antidrogas apreenderam 50 quilos de cocaína que estavam camuflados dentro de uma geladeira em um barco em Yavari.
Mas eles também operam na região de Madre de Dios, no sudeste do país, em rotas terrestres como a Interoceânica, estrada criada no governo de Alejandro Toledo para aumentar o intercâmbio comercial entre Peru e Brasil (e que hoje está sendo investigada pela Operação Lava-Jato). A Procuradoria Antidrogas sustenta que por essa via passam, por exemplo, caminhões carregados de droga para o Brasil.
Um desses clãs é o dos Quispe Palomino, que tem como chefes os irmãos Víctor e Jorge Quispe Palomino, ex-seguidores do grupo terrorista Sendero Luminoso, hoje dedicados ao negócio da droga. Eles operam na zona do Vraem, sigla para o vale dos rios Apurímac, Ene e Mantaro. Outro clã importante é o dos irmãos Rubén, Richard e Juan Flores Villar, embora nos últimos anos tenham se concentrado no tráfico para a Bolívia.
— No Peru não temos cartéis de droga como no México e na Colômbia, e sim clãs familiares e organizações criminosas. Para eles, o Brasil se converteu em um mercado potencial — disse Medina.
De acordo com um informe de 2015 da Comissão Nacional para o Desenvolvimento e Vida Sem Drogas (Devida, na sigla em espanhol), organismo com a atribuição de desenhar a estratégia antidrogas a nível nacional, no Peru existem 40.300 hectares de cultivo de coca. Em 2014, eram 42.900. Entre as áreas com os maiores cultivos estão o Vraem, com 18.333 hectares; e La Convención y Lares, com 10.454; que representam 71,4% do total.
Segundo fontes que preferiram não ser identificadas, 90% do cultivo de coca do Peru vão para o narcotráfico. Embora as Forças Armadas tenham reforçado os controles aéreos para reduzir as chamadas “narcoavionetas”, a fiscalização por via fluvial continua precária. Essas fontes responsabilizam a Marinha, que é a encarregada de controlar, por exemplo, o que acontece no rio Amazonas. As forças policiais do Peru afirmam desconhecer os métodos de ação utilizados pelas facções criminosas do Brasil.
GLOBO
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